Pela tarde, a movimentação na loja do Tendencies era intensa, e o organizador do evento, Porkão, não ficava muito tempo por lá porque estava sempre na correria para acertar os últimos detalhes e problemas, como a surpresa que o ECAD (órgão defensor de direitos autorais) fez para o festival (falarei disso em um próximo post). Foi muita gente trabalhando para que o evento acontecesse sem imprevistos, mas talvez só os mais esperançosos confiavam que o público poderia surpreender positivamente e garantir boa presença em uma noite de quinta-feira com atrações pouco conhecidas.
Desde o início da tarde, os tatuadores goianos Murilo Freitas e Adrien Dorme já deram início a programação do festival com a exposição de tatuagens feitas ali na hora mesmo, e isso se estendeu até pouco mais de 22hs, o que entreteve o público, já que o festival que estava marcado para começar às 21hs atrasou em quase duas horas, tradição de um público palmense mal-acostumado com cumprimento de horários. A única baixa da primeira noite foi a ausência de Pablo Capilé, nome forte da ABRAFIN e Espaço Cubo, que ministraria uma palestra aberta sobre mercado independente.
Vindos de Miracema, cidade vizinha a Palmas, os simpáticos veteranos da banda revelação de 2008, o Meros-Berros subiu no palco consciente de que as pessoas que ali estavam, tinham tempo e disposição suficiente para dar a atenção merecida a banda, coisa difícil de acontecer quando se divide palco com mais de cinco bandas. Sendo assim, eles fizeram um dos melhores shows até agora na curta carreira da banda, e mandaram bem com um punk rock bem feito e de cantar junto com vários backing vôoooocals nos refrões das músicas. Poucas bandas tocantinenses tem público que cante suas músicas ao vivo, o Meros-Berros tem potencial pra isso, basta dar uma divulgada nas letras pra galera, e isso vira questão de tempo. Os riffs indie da guitarra de Cássio aliado a poesia das músicas também chamaram a atenção deste que foi um excelente show melódico.
O Vento Azul tem história no Tocantins de dez anos atrás, mas ainda está no princípio de sua reconfiguração após muito tempo inativo. Contextualizando: no fim da década de 90, o Vento Azul que tem uma proposta ideológica de rock ecológico, obteve um patrocínio de 50 mil reais da empresa Investco para a gravação do cd Araguaia com o produtor do Legião Urbana, na época. Em novembro do ano passado, a banda voltou para uma apresentação a convite do Criticolouco Daniel Canoli, e fez sucesso. Da formação original, somente o baixista/vocalista Adriano Herman, que convidou o baterista Pedro e o guitarrista Rafael. Por ser uma banda que fala sobre fé entre uma música e outra, há muito preconceito por parte do público. Mas durante o show no Tendencies, aos poucos a banda dobrou a língua do pessoal mostrando o domínio que eles tem quando o assunto é blues, folk e rock n roll. A banda tem pinta de banda grande! Não fica devendo em nenhum aspecto para as bandas de fora.
Com status de terem tocado em Las Vegas (EUA) duas semanas antes do festival, e o som composto pela base do rockabilly aliado ao piano elétrico na linha de Jerry Lee Lewis, o Alex Valenzi & The Hideaway Cats era a banda mais esperada da primeira noite. O grupo, que conta com dois Crazy Legs em sua formação, Caio Durazzo (guitar) e McCoy (bateria e J. Cash vocal cover), já causava impacto só de circular pelo bar com o visual anos 50, mas onde não poderiam deixar de causar impacto mesmo era no palco. O show começou, e sem precisar de aviso, um público de aproximadamente 400 pessoas voltou no tempo e dançou sem parar. A banda, que além de muito boa era muito simpática, teve o público na mão o tempo todo. Gaspar (IRA!), que substituiria o baixista oficial Leandro Negri, não pôde acompanhar a banda devido a problemas com a empresa TAM que não liberou o transporte do contrabaixo. Alex Valenzi compensou a ausência do peso do contrabaixo com o uso das notas mais graves do piano, e McCoy comandou um “Foda-se a TAM” no meio do show para a galera bradar. O repertório mesclava muitos covers e algumas músicas pertencentes ao cd No Different Than You, com direito até a baladas sensuais. E da metade para o final do show, os músicos passaram a brincar ainda mais no palco, com o despretensioso revezamento de instrumentos e o assustador número do piano de 2 mil reais tocado na vertical! Thiago Play, que era assistente de palco, não via a hora de se jogar para que o piano não caísse. Nem precisou. Era tanta energia positiva, que mesmo cansados, o público não se entregava. Enquanto eles não resolvessem encerrar o show, todo mundo continuaria improvisando seus passinhos e suando litros. No fim, fica a impressão que jamais veremos outro espetáculo parecido aqui em Palmas. Mas segundo o Alex Valenzi, eles ainda voltarão outras vezes!
Para completar a festa, por volta das 3h subiu no palco o figuraça DJ Lucho, que não se considera músico, mas manja muito bem de música brasileira antiga misturada a rock n roll retrô e comandou o fim da surpreendente primeira noite do Tendencies Rock Festival.
Fotos: Emerson Silva
Por Daniel Bauducco